Dinossauros da Mongólia Chegaram a Lisboa
Por TERESA FIRMINO
Sexta-feira, 05 de Março de 2004

Quem for ver os dinossauros da Mongólia, em exposição na Torre Vasco da Gama, no Parque das Nações, em Lisboa, andará sempre acompanhado por um certo ruído de fundo. É o rugido de um dinossauro, que, volta e meia, ecoa pelas salas. Não é caso para sustos, é só para recriar o ambiente, porque todos os bichos ali expostos ao público, de hoje até 5 de Julho, já morreram há muito, no período Cretácico, que começou há 130 milhões de anos e acabou, abruptamente, há 65 milhões, com a extinção de muitas formas de dinossauros (só sobreviveram as aves). Mas é caso para apreciar os bichos da exposição, porque não são réplicas, e sim fósseis verdadeiros - ou seja, são ossos de dinossauro a sério, todos de formas desaparecidas.

A principal estrela desta exposição sobre os dinossauros do deserto de Gobi, no Sul da Mongólia - e que por isso receberam o nome de "gobissauros" -, é mesmo o "Tarbosaurus bataar", o parente asiático do famoso "Tirannosaurus rex", da América do Norte, também conhecido por tiranossauro ou apenas por T-rex. Os dentes do "Tarbosaurus", por exemplo, fazem lembrar os do T-rex.

Dois esqueletos completos do "Tarbosaurus" impressionam pela imponência. Todos os ossos acastanhados foram cuidadosamente montados, um a um, sobre uma estrutura metálica creme. O esqueleto maior tem oito metros de comprimento, embora esta espécie de dinossauro tenha atingido 12 metros, diz Rinchen Barsbold, director do Instituto de Paleontologia da Academia de Ciências da Mongólia, em Ulan Bator, numa nota explicativa.

"Estes predadores gigantescos poderiam ser necrófagos, se bem que esta suposição contradiga a imagem consagrada de agressividade associada aos enormes dinossauros predadores", explica. Mas a estrutura do crânio, com reduzida mobilidade de certos ossos, e a pequenez dos membros superiores, que não chegavam à boca, mostram que o "Tarbosaurus" tinha uma capacidade ofensiva limitada, acrescenta Barsbold. "O 'Tarbosaurus' alimentava-se exclusivamente de cadáveres. Não sabia caçar animais vivos e, muito menos, agredir presas de grandes dimensões, apesar de ser essa a ideia que costuma fazer-se."

Para ver ao perto, o enorme crânio de um "Tarbosaurus", que apareceu há 71 milhões de anos e desapareceu há 65, é mostrado à altura do visitante, mesmo à mão de semear, não fosse estar dentro de uma vitrina.

Outros ossos grandes são os membros superiores do "Deinocheirus" e do "Therizinosaurus". Destes bichos só se conhece aquela parte do corpo. Como as patas superiores de ambos atingem cerca de três metros de comprimento, as maiores que se conhecem, é caso para imaginar o tamanho do resto do corpo.

Embrião único no mundo

Mas se o muito grande impressiona, o muito pequeno também. Os ossinhos do embrião de um "Oviraptor", ainda dentro do ovo, de aspecto tão frágil, com apenas oito centímetros na base, estão sobre um monte de areia. É o único exemplar no mundo de um embrião do "Oviraptor". "Este embrião, encontrado em 1993, no interior um ovo por eclodir, permitiu conhecer a estrutura óssea destes dinossauros antes do nascimento", lê-se junto a este fóssil. No mesmo monte de areia apresenta-se a reconstrução tridimensional do embrião deste dinossauro dentro da casca de ovo.

Do "Oviraptor", um pequeno carnívoro bípede, que atingia dois metros de comprimento e 1,30 de altura e uns 35 quilos, pode também ver-se um ninho de ovos. Com uma forma alongada e castanhos, o que não lhes dá um grande aspecto, estes ovos foram descobertos dispostos aos pares no ninho, algo invulgar e que suscita grande interesse aos cientistas.

A história do "Oviraptor", com um bico semelhante ao dos papagaios, está ligada aos ovos. A começar pelo nome, que significa "ladrão de ovos". Só que esta é uma fama injusta, que durou mais de 70 anos. Os paleontólogos pensavam que roubava ovos ao "Protoceratops". Isto porque nas expedições norte-americanas à Mongólia, nos anos 20, encontraram-se os primeiros ovos de sempre de dinossauro (o que confirmou que nasciam em ovos) e, como perto do ninho estava a carcaça fossilizada do "Protoceratops", assumiu-se que eram dele. Como depois se descobriu um "Oviraptor" num ninho, os cientistas deduziram que era um devorador de ovos e estava a roubá-los. Não pensaram que também podia pôr ovos, como o "Protoceratops".

Apenas no início dos anos 90 se apagou a má fama do "Oviraptor". Não só se descobriu o único embrião conhecido desta espécie, o que revelava que tinha posto alguns dos ovos, como se encontrou um "Oviraptor" acocorado no ninho, a proteger os ovos de uma tempestade de areia, que viria a matá-lo. Afinal, era um progenitor extremoso e não um ladrão de ovos. Hoje pensa-se que comia moluscos de água doce, com a casca dura, até porque a sua mandíbula era poderosa.

No que toca ao tamanho pequeno, há que reparar no "Psittacosaurus", que surgiu na Terra há 121 milhões de anos e se extinguiu há 99 milhões. O esqueleto de um dos adultos expostos fica-se por um metro de comprimento. "É o dinossauro herbívoro mais pequeno que se conhece. Expandiu-se por toda a Ásia no Cretácico Inferior. As maxilas estavam cobertas por um bico maciço córneo semelhante ao dos papagaios. Isto sugere que se alimentava de plantas coriáceas", lê-se. Repare-se ainda no esqueleto de um "Hadrosaurus" recém-nascido, de 20 centímetros, delicadamente deitado na areia: "Esta cria morreu imediatamente após ter nascido. Em adulto podia ter atingido 9 metros de comprimento e três de altura. Tinha um bico parecido com o dos patos."

No total, podem ver-se 14 esqueletos completos de dinossauros do deserto de Gobi, que hoje é conhecido pelas excelentes condições de preservação de fósseis. No Cretácico, havia água em abundância naquela região, com rios caudalosos, bacias lacustres e pântanos. Por isso, muitos dinossauros morreram enterrados na lama, o que, a par das tempestades de areia, ajudou a conservar os ossos, transformando-os ao longo dos anos em pedra.

Itinerante, esta colecção, a cargo da Fundação Metropolitana de Milão, Itália, já esteve no Porto, no ano passado. Barsbold, que trabalhou a vida toda nela, realiza expedições na Mongólia desde 1963 e é hoje um dos mais importantes caçadores de dinossauros. Alguns dos que estão na mostra foi o paleontólogo mongol, que acompanhou a colecção a Lisboa, que lhes deu o nome.

A visita termina com os não menos famosos dinossauros robotizados do Museu de História Natural de Londres. O T-rex mexe os olhos e abre a boca. Sim, é dele que vem o rugido.

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