A saída de campo à Serra da Estrela destina-se aos professores do 11º grupo B e aos alunos do 12º ano inscritos na disciplina de Geologia. Tem como objectivo o conhecimento do conjunto de processos que estiveram na origem da formação da Serra da Estrela, sendo possível observar os seus efeitos e a observação dos vestígios deixados pela glaciação Wurmiana.
Durante o Periodo Quaternário, ocorreram fortes oscilações climáticas traduzidas em fases glaciárias
que alternavam com fases interglaciárias, de que resultaram quatro
glaciações: Gunz, Mindel, Riss e Wurm. Em Portugal, podemos encontrar
registos da acção erosiva glaciária na Serra da Estrela, a qual
foi fortemente afectada pela glaciação de Wurm, a última glaciação
Quaternária que teve o seu pico na Serra há cerca de 20 mil anos
e a única que atingiu o nosso país. Se houve outras, as suas marcas
foram apagadas por esta última.
Os vestígios desta glaciação estão representados pelos vales em
U, depósitos de moreias, blocos erráticos e rochas polidas e estriadas.
Os glaciares da Serra da Estrela, alguns somente identificáveis
por restos de moreias conservadas, são: Glaciar do Zêzere, Glaciar
do Alforfa, Glaciar da Estrela, Glaciar do Alvoco, Glaciar do
Loriga, Glaciar do Covão do Vidual e Glaciar do Covão do Urso.
A área da glaciação da Serra da Estrela é constituída por granitóides
hercínicos, enquanto as áreas envolventes se desenvolvem essencialmente
em metassedimentos do "Complexo Xisto-grauváquico". Encontram-se
ainda depósitos glaciários e fluvio-glaciários e rochas filonianas.
Entre os granitóides do alto da montanha, existe uma acentuada
variedade petrográfica, que pode ir do granodiorito ao leucogranito. De um modo geral,
pode dizer-se que os granitóides se dispõem em faixas grosseiramente
concêntricas, em que um granito de duas micas, porfiróide de grão
grosseiro, e depois de grão médio, envolve um granito moscovítico
de grão médio a grosseiro, que passa a granito moscovítico de
grão fino ou a granito de duas micas de grão fino. O granito tende
assim, a tornar-se de grão menos grosseiro e mais moscovítico
para o interior do maciço.
Na zona de contacto da série xistenta com os granitos, ocorrem
metagrauvaques, xistos mosqueados e corneanas resultantes de metamorfismo.
A formação dos metassedimentos envolventes do maciço granítico
que constitui a Serra da Estrela, deve-se à deposição de areias
e rochas muito finas em ambiente marinho. Estes sedimentos ter-se-ão
depositado em zona de talude, tratando-se assim, de sedimentos
turbidíticos, que deram posteriormente origem a xistos. O mar
em que terá ocorrido essa deposição existiu durante o Pré-Câmbrico-Câmbrico.
Da subsidência resultante da deposição dos sedimentos originaram-se
magmas ácidos, aos quais se deve a formação do maciço granítico.
Os granitos cristalizaram em zona de cizalhamento, a cerca de
4 km de profundidade e instalaram-se há ~300-310 Ma., sendo portanto
de idade hercínica, já numa fase tardia (F3).
Desde então ocorreu uma delaminação superficial dos metassedimentos,
por efeitos erosivos, que deixou a descoberto os granitos. No
entanto, todo este processo foi sendo acompanhado pelas últimas
acções da orogenia Hercínica, que causaram a fracturação do maciço granítico.
Mais tarde, inicia-se novo ciclo orogénico, o ciclo Alpino, originando
dobramentos que se traduziram no levantamento de cadeias de montanhas.
Durante este ciclo ocorre na Península Ibérica uma re-activação
daquelas falhas antigas e toda a Cordilheira Central se levanta.
Este levantamento é feito em degraus, formando um conjunto de
patamares a vários níveis.
Durante o Paleolítico superior, a glaciação Wurmiana cobriu os
altos cimos da Serra , permitindo que algumas das línguas glaciárias
se instalassem em vales tectónicos de idade mais remota.
1ª Paragem - Srª. da Espinheira (tempo estimado: 10 minutos)
a 15 minutos de Seia na direcção do Sabugueiro
O docente pode fazer uma introdução teórica relativamente à tectónica e enquadramento geológico de toda a área da Serra da Estrela. Chamar a atenção para a planície do Mondego referindo que esta representa uma antiga superfície de aplanamento.
2ª Paragem - Pedreira da barragem do Covão do Curral (tempo estimado: 20-30
minutos)
estacionar quando a barragem se encontrar à direita numa curva também para a direita
Identificação e caracterização macroscópica de dois granitóides com texturas diferentes: granito biotítico-moscovítico de grão grosseiro e granito biotítico com tendência porfiróide de grão fino.
3ª Paragem Lagoa comprida (40 minutos)
realizar um pequeno percurso pedestre partindo por detrás da casa
de artesanato
- a 250 metros da partida
- a 80 metros da paragem anterior
- a 170 metros da paragem anterior (sair do caminho para o lado esquerdo)
4ª Paragem - Junto ao cruzamento para Manteigas (tempo estimado: 40-45 minutos)
Identificação e caracterização da fácies litológica local (granito
moscovítico de grão médio);
Observação de laminações horizontais do granito (resultado da descompressão);
Realização de um pequeno percurso para observação da nascente
do Zêzere.
Sugere-se a passagem na Torre para observação do planalto; este representa o patamar de nível mais elevado (1993 metros) de toda a escadaria que constitui a Serra. Seguir depois em direcção a Manteigas.
5ª Paragem - Nave de Sto António (tempo estimado: 15 minutos)
junto à placa "Centro de Limpeza de Neve 3 Km". Nota: curva perigosa
Observação do circo glaciar, do bloco errático ("Poio do Judeu") e de moreias.
6ª Paragem - Cruzamento para Manteigas (30 minutos)
fazer um pequeno percurso até uma construção abandonada (teleférico)
Vista do circo glaciar, moreia de fundo e "Poio do Judeu".
7ª Paragem - Estrada de Manteigas (5 minutos)
o autocarro deve parar na primeira oportunidade. No entanto, não há condições para sair do autocarro, em especial se houver muito movimento automóvel.
Vista do vale do Zêzere (vale em U).
8ª Paragem - Covão da Ametade (30 minutos)
Vista do circo glaciar que alimentava a língua glaciária que formou o vale do Zêzere.
Brum A. F., Daveau S., Ferreira N., Vieira G. - "Novas observações acerca da glaciação da Serra da Estrela". Estudos do Quaternário, 1, APEQ, Lisboa, 1997, p. 41-51.
Brum A.F., Senna-Martinez J. C., Sirgado C., Valera A.C. - "O Quaternário da Beira Alta - Aspectos da geomorfologia, Paleoecologia e Arqueologia". Livro Guia,1994, APEQ e EAM.
Carvalho F., Fernandes A. P., Santos J.P., Teixeira C., Vairinho M.M. - "Notícia explicativa da folha 20-B da Carta Geológica de Portugal", Escala de 1/50 000, 1974, Direcção-Geral de Geologia e Minas.