Aspectos geológicos do Parque Nacional da Peneda-Gerês

A área na qual se insere esta visita de estudo integra-se, na sua maioria, no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG). Deste modo, os alunos devem ser alertados para o facto de se encontrarem numa zona protegida, devendo minimizar o impacte sobre o meio ambiente envolvente. Dever-se-á chamar a atenção para o facto do Património Natural integrar aspectos geológicos e biológicos, facto habitualmente esquecido nas abordagens relativas ao Ambiente.
O itinerário da visita permitirá aos alunos um melhor conhecimento da Geologia da zona Norte de Portugal, especialmente os aspectos associados à paisagem granítica típica do PNPG, o único parque nacional em Portugal.

Na medida em que os caminhos a percorrer são relativamente estreitos, aconselha-se a utilização de um autocarro pequeno.
A realização do percurso terá a duração de um dia, podendo o alojamento efectuar-se na Pousada da Juventude de Vilarinho das Furnas.

Destinatários

O percurso proposto nesta visita permitirá uma melhor compreensão e visualização dos fenómenos geológicos abordados nos seguintes conteúdos programáticos:

Objectivos da saída de campo

Esta visita de estudo tem como principais objectivos:

Enquadramento geológico

A área da visita situa-se na região minhota, fazendo fronteira com a região espanhola da Galiza. Predominam nesta área, rochas graníticas de diferentes idades. As mais antigas, afloram na Serra do Soajo, Serra Amarela, planalto de Castro Laboreiro e no extremo oriental da Serra do Gerês. Os granitos mais recentes constituem a Serra da Peneda e do Gerês.

Estas rochas ter-se-ão instalado na crusta há 380-275 milhões de anos atrás, durante a Orogenia Hercínica. Por Orogenia Hercínica entende-se uma fase de deformação intensa que se deu entre o início do Devónico e o fim do Pérmico. As tensões geradas nesta orogenia levaram à génese de importantes fracturas que propiciaram a ascensão e implantação de rochas magmáticas. Os maciços mais antigos instalaram-se posteriormente à primeira fase de deformação hercínica. Os mais recentes instalaram-se sob condicionamento da terceira fase de deformação hercínica, são portanto considerados granitos sintectónicos e apresentam uma fácies de granito de duas micas de granularidade variável.

O maciço mais recente, Maciço granítico da Peneda-Gerês, com uma idade de 302 ± 3 Ma. é constituido por granitos considerados pós-tectónicos, posteriores à terceira fase de deformação hercínica. São granitos de grão grosseiro, biotíticos e com alguns megacristais de feldspato potássico.

Esta grande actividade plutónica fez com que houvesse metamorfismo dos sedimentos que cobriam nessa altura a Península Ibérica. Deste modo, encontramos metassedimentos de idade silúrica no extremo nordeste do planalto de Castro Laboreiro e que resultaram da metamorfização dos sedimentos originada pela instalação dos magmas granitos.

Durante milhões de anos as rochas que cobriam toda esta região foram sendo erodidas levando ao afloramento das rochas intrusivas que constituem neste momento o conjunto de várias serras e que caracterizam a paisagem minhota. Estes afloramentos, por acção dos agentes erosivos, vão sendo alterados dando origem à paisagem granítica com os seus caos de blocos, as grandes diaclases e algumas formas curiosas originadas pela erosão.

Durante o Quaternário, houve grandes variações climáticas no globo que se caracterizaram pela existência de períodos glaciários e interglaciários. Mais especificamente, durante o Wurm, toda esta região estaria coberta por camadas espessas de gelo – glaciares. Estes foram deixando as suas marcas nas rochas – vales com perfil em U, moreias, circos glaciares, superfícies de granito polidas e estriadas e depósitos glaciares. Estas formas podem ser observadas nas Serras da Peneda e do Gerês.

Percurso (ver mapa):

1ª paragem: Covide (45 minutos)
Esta paragem situa-se na estrada que liga Rio Caldo a Covide, próximo desta última povoação e a cerca de 450 m do cruzamento que vai para Terras de Bouro e Campo do Gerês. O autocarro deverá estacionar do lado direito, necessitando os alunos de atravessar a estrada. Recomenda-se, portanto, bastante cuidado.

Esta paragem compreende um ligeiro percurso pedestre de cerca de 300 m, ao fim do qual se chega a uma bifurcação. O professor poderá chamar a atenção para as diferenças observadas na paisagem devido às variações de fácies do granito e à sua resistência diferencial aos agentes erosivos. Deste modo, os alunos poderão constatar que na zona onde se encontram (constituída por Granito do Gerês) predominam os caos de blocos ao passo que na Serra Amarela (constituída por Granito da Serra Amarela) o relevo é mais suavizado.

Caminhando de seguida para a esquerda, chega-se a um local que foi uma antiga exploração de quartzo e de feldspato, onde aflora um filão pegmatítico. Os alunos poderão observar o quartzo leitoso e o feldspato rosa que constituem esse pegmatito. Ao longo do pequeno percurso poderão ser observados ainda, alguns aspectos da arenização dos granitos. O professor poderá salientar a importância do clima nesta região – muito húmido, o que faz com que se forme uma grande espessura de granito alterado. Pode observar-se ainda nalguns pontos a conservação de zonas arredondadas mais resistentes que, por remoção das arenas originarão caos de blocos. A instalação do solo sobre o granito alterado é também observável, neste percurso. A partir dos blocos que se encontram à entrada do caminho (junto à estrada), os alunos podem caracterizar o Granito do Gerês – granito porfiróide, biotítico, de grão grosseiro e com predomínio de feldspato rosa, que lhe confere essa tonalidade.

Terminada a paragem, o autocarro deve dirigir-se com destino a Germil. Para isso, segue na direcção de Terras de Bouro e, ao fim de 9.3 km, virará para a direita. Passa pelas povoações de Refonteira, Gondoriz, Bustelo e Vergaço. Chegando a esta aldeia, atravessa-a e, no cruzamento que se segue, vira à esquerda para Germil.

 

2ª paragem: Germil (15 minutos)
Situa-se a cerca de 1 km da aldeia de Germil, junto à estrada.

Esta paragem tem como objectivo a observação da fácies do Granito de Germil - granito de grão fino a médio, biotítico e de cor escura. Os alunos poderão comparar esta fácies com a do Granito do Gerês e mais uma vez verificar a influência da textura na presença ou ausência de caos de blocos.

Após esta paragem segue-se para Entre-Ambos-Os-Rios. Aqui poder-se-á parar para o almoço. De seguida parte-se para a paragem seguinte passando por Britelos, Barragem de Lindoso e Soajo.

 

3ª paragem: Situa-se no cruzamento entre a Gavieira e Lindoso (15 minutos)

Nesta paragem poderão observar-se os metassedimentos resultantes da instalação dos granitos. Os alunos terão oportunidade de observar uma rocha metamórfica fazendo a distinção entre esta e os granitos (rocha magmática). Poderão observar ainda a xistosidade e alguns veios de quartzo a atravessar os xistos. O professor pode ainda, solicitar aos alunos que imaginem o tipo de ambiente e o aspecto desta região aquando da deposição destes sedimentos e as fases posteriores que levaram à sua metamorfização.

4ª paragem: Miradouro da Senhora da Peneda (15 minutos)
Situa-se a 3 km da 3ª paragem, do lado direito

Neste ponto, observa-se um vale de falha. A falha de direcção NNE-SSW condicionou o traçado do rio, fazendo com que este se orientasse na mesma direcção.
Pode chamar-se a atenção para a rede de fracturação que atinge os granitos e ainda para o efeito "casca de cebola" nos mesmos. É de salientar ainda, a influência das diferentes litologias nas diferenças observadas a nível da paisagem e do relevo, de um e de outro lado do vale.

Depois da 4ª paragem segue-se em frente no cruzamento da Gavieira.

5ª paragem: Branda de Santo António (15 minutos)

Pode chamar-se a atenção para as diferenças de relevo verificadas pela existência de diferentes litologias – metassedimentos e granitos. Podem ainda observar-se alguns índicios deixados pelos glaciares durante o Quaternário:

Inverte-se a marcha dirigindo-se até ao cruzamente anterior. Neste deve virar-se à esquerda em direcção a Lamas de Mouro.

 

6ª paragem: Lamas de Mouro (15 minutos)
Situa-se do lado direito, junto à ponte, antes de Lamas de Mouro.

Pode observar-se um depósito fluvio-glaciar, com clastos de dimensões muito variáveis e pouco rolados. O professor deverá chamar a atenção para as características macroscópicas desta rocha sedimentar, salientando a ocorrência de rochas sedimentares em terrenos do soco cristalino.

No cruzamento de Lamas de Mouro virar à direita para Castro Laboreiro.

 

7ª paragem: Castro Laboreiro (25 minutos)
Situa-se em Castro Laboreiro, no caminho para o Castelo.

Esta paragem inclui um pequeno percurso a pé até à tartaruga. Os alunos poderão observar o resultado da acção dos agentes erosivos sobre as rochas graníticas que, por vezes, dão origem a formas curiosas como esta. Podem salientar-se ainda os aspectos típicos da paisagem granítica observando a paisagem circundante.

O percurso de regresso poderá fazer-se de diferentes modos consoante o destino dos visitantes. Se a opção for voltar ao Gerês, aconselha-se o percurso por Espanha até à fronteira do Lindoso. Se se pretender dirigir-se para o sul, aconselha-se a autoestrada A3, devendo dirigir-se em direcção a Valença.

 

Bibliografia de apoio

Ferreira A. de Brum, Vidal-Romani J. R., VilaPlana J. M., Rodrigues M. L., Zêzere J. L. e Monge C. (1992) - Formas e depósitos glaciários e periglaciários da Serra do Gerês - Xures ( Portugal, Galiza). Levantamento cartográfico. Cuaderno Lab. Xeol. de Laxe, 17, 121-135.

Medeiros A. C., Teixeira C. e Lopes J. T. (1975) - Notícia explicativa da folha 5-B (Ponte da Barca) da Carta Geológica de Portugal na escala de 1/50 000. Serv. Geol. Portugal.

Mendes A. (1995) - Plutonismo ácido subalcalino tardi a pós-hercínico: O Maciço Granítico de Peneda-Gerês, NW Península Ibérica. Memória n.º 4, pp761-766. Fac. de Ciências da Univ. do Porto.

Moreira A. e Simões M. (1988) - Notícia explicativa da folha 1-D (Arcos de Valdevez) da Carta Geológica de Portugal na escala 1/50 000. Serv. Geol. Portugal.

Pureza F. - Contribuição para o estudo petrográfico dos granitos do Minho.

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