Como distinguir um xisto sedimentar de um metamórfico? Todos os xistos são metamórficos? Como relacionar as seguintes rochas: Ardósia, xisto, filito, shale. Como definir xistosidade, lineação e foliação. Qual a origem dos gneisses? Orto e paragneisses.

Contribuição 1

Vamos por partes:
1. Foliação é uma propriedade que as rochas apresentam que se manifesta pela facilidade de se fracturarem segundo planos mais ou menos paralelos. Esta propriedade resulta, em muitos casos, de um alinhamento de minerais que possuem uma clivagem predominante segundo uma dada direcção.
Xistosidade é um tipo de foliação. Neste caso esta é originada pela presença de grande quantidade de micas que estão orientadas na rocha.
Lineação é uma propriedade das rochas apresentarem linhas, traços, que resultam do alinhamento de minerais prismáticos (em muitos casos).

2. O termo "xisto sedimentar" não deverá ser usado devendo-se guardar a palavra xisto para caracterizar rochas de ambientes metamórficos. Em livros mais antigos (e infelizmente em alguns manuais escolares) surge o termo "xisto argiloso" como sendo uma rocha sedimentar. Trata-se de um argilito que possui uma foliação (em principio paralelamente à estratificação). Esta foliação resulta da existência de um alinhamento de minerais folhetados (normalmente micas) que, durante o processo de sedimentação se orientam exactamente do mesmo modo como um conjunto de folhas se orienta quando cai ao chão.

3. Ardósia é uma rocha metamórfica de grão fino, com foliação, normalmente de cores escuras. Filito é semelhante à ardósia embora a foliação não seja tão perfeita, podendo apresentar cores diversas. Xisto é uma rocha metamórfica que apresenta xistosidade (quando as micas são visíveis a olho nú, a rocha designa-se por micaxisto). Shale é um termo não muito utilizado em língua portuguesa e que dá origem a confusão. Ora aparece associado a rochas sedimentares de grão fino com foliação ora a rochas metamórficas também de grão fino.

4. Gneisses são rochas metamórficas (de elevado grau de metamorfismo) de grão grosseiro que se caracterizam pela existência de bandas de mineralogia distinta. Ortogneisses são gneisses que resultam do metamorfismo de rochas ígneas (rochas graníticas) enquanto que os paragneisses resultam do metamorfismo de rochas sedimentares (arenitos na maior parte dos casos).

Em resumo:
Para rochas detriticas de grão fino de ambientes sedimentares, será melhor utilizar termos como argilito e siltito (de acordo com o tamanho dos sedimentos). Estas rochas podem ou não apresentar foliação (em caso afirmativo, a literatura anglo-saxónica utiliza o termo shale para estas rochas).
Para rochas metamórficas de grão fino, utilizam-se termos como ardósias, filitos e micaxistos. Se as rochas apresentam grão grosseiro e bandeamento, utiliza-se o termo gneisse.

Nota: As questões relacionadas com a nomenclatura das rochas pode suscitar ainda hoje alguma controvérsia. Assim poderão existir colegas que discordem desta minha resposta.

Jose' Brilha (jbrilha@dct.uminho.pt)


Contribuição 2

Não é "linear" a resposta às suas questões; vou tentar ser o mais sucinto e exacto possível.

Existe alguma confusão na nomenclatura de rochas pelíticas, quer sedimentares quer metamórficas. Esta confusão advém de dois factos:
1 - da utilização "livre" (ou abusiva, como lhe quisermos chamar) de certos termos, nomeadamente no que se refere ao xisto;
2 - de haver uma sequência contínua de rochas com uma mesma origem (lodo argiloso ou argila - rocha sedimentar não consolidada) mas que podem apresentar diferentes estádios de evolução (diagénese e metamorfismo). Sendo contínua a sequência, torna-se difícil colocá-las em "gavetas" estanques, tradicional em qualquer tipo de nomenclatura (não deixa de ser um "mal necessário").

Nesta situação, recomendaria, como base de trabalho, a adopção da nomenclatura anglo-saxónica para uma classificação macroscópica que, gostemos ou não, é tradicionalmente simples e pragmática. Os termos adoptados na língua inglesa que designam as rochas deste parentesco (com origem no lodo argiloso e que apresentam diferentes graus de evolução) são, em grau crescente de evolução, os seguintes:

Mud ou clay - argila (sedimento constituído por uma mistura de partículas de dimensão inferior a 0,004 mm, geralmente silicatos de alumínio hidratados, com água).
Mudstone ou claystone - argilito (rocha sedimentar formada pela litificação de argilas, que não apresenta fissilidade - tendência das rochas em fragmentarem-se através de planos de estratificação extremamente finos); corresponde à argila compactada.
Shale - xisto argiloso (rocha sedimentar que apresenta fissilidade); corresponde ao argilito cimentado.
Slate - ardósia (rocha de baixo grau de metamorfismo, por vezes dita meta-sedimentar); apresenta clivagem produzida por pressão e textura afanítica. Curiosamente alguns autores anglo-saxónicos utilizam o termo "argillite" como sinónimo de "slate", o que em tradução literal para português, daria o argilito como sinónimo de ardósia.
Phyllite (ou "leaf stone") - filito (rocha metamórfica de grau médio, foliada, com minerais planares, como por exemplo micas, visíveis a olho nú). Os planos de foliação podem apresentar algum brilho sedoso.
Schist - xisto ou micaxisto (rocha metamórfica de alto grau, essencialmente formada por altas pressões, com uma foliação ou xistosidade muito desenvolvida, e constituída maioritariamente por micas - moscovite - com cristais muito desenvolvidos). Apresenta forte foliação, designada por xistosidade.
Gneiss - gnaisse (rocha metamórfica de muito alto grau, formada por altas pressões e altas temperaturas). Apresenta foliação e bandado composicional (leitos com composições mineralógicas distintas, uns típicamente de quartzo e feldspatos e outros de minerais máficos).

Em conclusão, para responder directamente às suas perguntas:

P: Como distinguir um xisto sedimentar de um metamórfico?
R: No sentido estrito do termo, não há xistos sedimentares.

P: Todos os xistos são metamórficos?
R: No sentido estrito do termo, sim.

P: Como relacionar as seguintes rochas: ardósia, xisto, filito, shale?
R: Ver texto anterior

P: Como distinguir xistosidade, lineação e foliação?
R: Começemos pela foliação e pela xistosidade.
Foliação (muitas vezes utilizada como sinónimo de clivagem) é um termo geral que abrange todas as estruturas planares existentes nas rochas metamórficas, produzidas por deformação. Esta designação inclui a clivagem de fractura, a clivagem de crenulação, a clivagem xistenta, a xistosidade e o bandado gnáissico. A xistosidade é, assim, um tipo de foliação, caracterizada pela ocorrência de groso suficientemente grandes para que a respectiva rocha seja classificada como um xisto (classificação não-genética). Quanto à lineação, podemos definir como: Qualquer estrutura linear que se encontra nas rochas, que pode ser superficial ou penetrativa (estrutura que se repete no interior das rochas a várias escalas de observação - macroscópico e microscópico). As lineações têm orientações consistentes e podem ser devidas a: (a) alinhamento preferencial de minerais prismáticos, como por exemplo a hornblenda; (b) intersecção de estruturas planares (p. ex: duas foliações); (c) alinhamento de eixos de dobras menores ou de bandas "kink" (dobramento penetrativo); (d) arranjo paralelo de elementos estruturais alongados.

P: Qual a origem dos gneisses? (é de evitar o "aportuguesamento" do termo original gneiss; é preferível utilizar gnaisse)
R: Os gnaisses têm origem na metamorfização (com fusão parcial) de rochas sedimentares (ex: argilitos) com estratos bem diferenciados, ou de rochas ígneas (ex: granitos) que sofreram a chamada diferenciação metamórfica (processo de migração química). Os primeiros são designados, quanto ao parentesco, como paragnaisses e, os segundos, como ortognaisses.

José Carlos Kullberg (jck@fct.unl.pt)

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