Encontrado na Europa o Mais Antigo Fóssil do Colibri Moderno
Por JOANA FILIPE
Sexta-feira, 07 de Maio de 2004

Foi encontrado o mais antigo registo fóssil de um colibri moderno, no sul da Alemanha, que é também o primeiro a ser descoberto no Velho Mundo. Esta ave, também conhecida como beija-flor, só existe actualmente no continente americano, mas a descoberta relatada pelo ornitólogo Gerald Mayr, do Forschungs-Institut Senckenberg de Frankfurt na revista "Science", pode baralhar as teorias evolutivas e explicar até a existência de algumas flores, no continente europeu, com uma forma ajustada à polinização por estes animais.

O delicado esqueleto, descoberto em rochas com 30 milhões de anos, na aldeia de Frauenweiler, guarda muitas semelhanças com o colibri actual. O bico estreito e alongado, com duas vezes e meia o tamanho do cérebro, sugere que este antepassado do colibri, do período Oligocénico Antigo, se alimentava de néctar de flores.

A forma das articulações dos ombros e da parte superior das asas permitia a estas aves permanecer suspensas no ar sem necessidade de um apoio - uma característica que ainda hoje é exclusiva do beija-flor. Apesar da ponta do bico não se ter preservado, Gerald Mayr acredita que estas aves deveriam medir, no total, cerca de quatro centímetros, ou seja, o tamanho médio de um colibri actual.

Estes fósseis demonstram que os antepassados dos colibris desenvolveram as principais características destas aves há mais de 30 milhões de anos, sublinha Gerald Mayr, citado num comunicado de imprensa da "Science." Isto pode ajudar a explicar a existência de algumas flores europeias actuais cuja forma, sem pontos de apoio para as aves se empoleirarem enquanto se alimentam do néctar, parece adaptada a aves com capacidade de suspender o voo no ar - uma habilidade de que apenas o colibri se pode gabar.

Algumas destas plantas ornitófilas - cuja polinização é realizada por aves - existem, nos dias de hoje, em zonas onde não há rasto destas espécies voadoras. A teoria de Mayr é que os colibris e algumas plantas do Velho Mundo terão evoluído juntos, num processo de co-evolução em que ambos se ajustavam mutuamente às necessidades do outro. Quando estas aves se extinguiram nesta parte do globo, algumas espécies de insectos, como as abelhas, de língua comprida, terão passado a cumprir a função polinizadora.

Ethan Temeles, especialista na co-evolução de plantas e polinizadores do Amherst College em Massachusetts, citado pela "Science", concordou que a descoberta do fóssil de um polinizador, como o encontrado por Mayr, pode ajudar a explicar a história evolutiva tanto das plantas como das aves.

Até agora, o mais antigo fóssil com tantas características partilhadas com o colibri moderno fora retirado de rochas com cerca de um milhão de anos, na América do Sul. Com esta descoberta, o registo fóssil destas aves recua 29 milhões de anos. E, mais importante do que isso, transporta a investigação sobre as origens destas aves para o outro lado do mundo. Por isso, o ornitólogo deu à sua descoberta o nome de "Eurotrochilus inexpectatus", que significa literalmente uma "inesperada versão europeia" de Trochilus, um género do colibri moderno.

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