MUSEUS DE GEOLOGIA

Um novo (conceito de) Museu Nacional de Historia Natural?
Date: Fri, 29 May 1998 19:53:59 +0000
From: pal@mail.fct.unl.pt
    To: geopor-l@dct.uminho.pt

Caros colegas,

Num dos meus ultimos mails para o forum Geologia e Sociedade referi a necessidade de se discutir o conceito de Museu Nacional de Historia Natural.

Na recente conferencia sobre Paleobiologia dos Dinossauros (que reuniu em Portugal importantes personalidades da paleontologia portuguesa e internacional) o ministro da Ciencia questionou a utilidade e eficacia de um Museu Nacional (de Historia Natural) tutelado por uma Universidade:


(veja em: http://www.publico.pt/publico/ED19980529/H02.asp)

A decisao de Jose Barata Moura e' um dos resultados da I Conferencia Internacional sobre Paleobiologia dos Dinossauros que hoje termina em Lisboa e uma resposta directa ao desafio lançado na abertura dos trabalhos por Jose' Mariano Gago, ministro da Ciencia e da Tecnologia. Na altura, Gago defendeu que seria necessario discutir o futuro no MNHN, uma vez que "a experiência demonstra que o modelo de museus nacionais tutelados por universidades nao foi apropriado para Portugal."

Galopim de Carvalho, director do MNHN e organizador do encontro de Lisboa, acha que Mariano Gago nao tem razao. "O Museu pode continuar a ter a tutela da Universidade e ter dinheiro por uma qualquer via que os politicos sabem muito bem inventar", diz o investigador. "Nao me parece possivel que um museu deste tipo possa ter uma qualquer outra tutela que nao seja a Universidade".

A discussao sobre o futuro do MNHN nao devera ter um final muito rapido, tanto mais que o estatuto da autonomia universitaria nao permite a intervencao do Governo na instituicao, mesmo tratando-se de um Museu Nacional. Por outro lado, e dificil conceber um museu deste tipo completamente desligado da Universidade, num pais onde os recursos humanos nesta area sao bastante escassos.


Na minha opiniao e' estranho, senao inadequado, que se possa chamar Museu Nacional a um museu que e' tutelado por uma Universidade (neste caso a Universidade de Lisboa). Sabemos hoje como e' dificil a qualquer universidade ter verbas para melhorar as instalacoes pedagogicas e de investigacao... quanto mais para o financiamento de um museu.

Se se trata de um Museu NACIONAL deve ter um elo politico, pelo menos ao nivel da administracao, na medida em que os financiamentos devem reflectir as politicas governamentais para a ciencia e cultura. Parece-me que o Museu Nacional de Historia Natural deveria ser tutelado pelo Ministerio da Ciencia ou pelo Ministerio da Cultura... ou pelos dois, ou ainda com alguma ligacao ao Ministerio do Ambiente.

Isto responsabilizaria o poder politico e facilitaria o planeamento e desenvolvimento de actividades relacionadas com a inventariacao, divulgacao e investigacao do patrimonio geologico portugues, potenciando ate a integracao com outras iniciativas/projectos cientifico/culturais promovidas pelo governo.

Julgo de grande importancia a existencia de um cargo (em exclusividade) de Director Cientifico do Museu Nacional de Historia Natural a ser preenchido por concurso publico (ou por nomeacao??). Eventualmente deveria ser criado tambem um quadro de conservadores?, museologos?, divulgadores de ciencia? (alguem sabe qual a designacao correcta?).

O Museu Nacional de Historia Natural deveria ocupar instalacoes de facil acesso quer pelo publico quer pelos professores e investigadores... e estar preparado de raiz para a realizacao de exposicoes e conferencias com salas confortaveis e dotadas de equipamento multimedia.

Outra hipotese (peregrina?) seria a de se criar uma entidade gestora/administrativa que congregasse todos os museus (de historia natural, de mineralogia, de paleontologia, etc) que ja existem espalhados pelo pais, nas universidades ou em organismos publicos.

Um aspecto importante a estudar serao as leis e regulamentos, nomeadamente no que diz respeito a' doacao de coleccoes pessoais, a' pesquisa e exploracao/extraccao de fosseis no terreno, e a direitos de autor. Tudo isto deveria ser o resultado de uma reflexao seria, e participada, por todos aqueles que se interessam pelas Ciencias da Terra em Portugal.

Quais sao as vossas opinioes?
Poderá instalar-se o Museu Nacional fora de Lisboa?

Cumprimentos a todos
Paulo Legoinha


Um novo (conceito de) Museu Nacional de Historia Natural?
From: arqueojovem.tom@mail.telepac.pt
     To: geopor-l@dct.uminho.pt

Colegas,

 Li os comentários de P. Legoinha sobre o estatuto do MNHN. O debate pode ser alargado a outros casos, como do Museu Nacional de Arqueologia, que conheço melhor, mas  que, em tese, creio não se dever distinguir. Penso que no debate em causa se confunde dois planos: o da orientação estratégica e o da gestão. O primeiro decorre de um programa, e é inconcebível que um Museu de Ciências, ou do Património, possa subsistir sem um forte núcleo de investigação, que o oriente. Tendo em conta a realidade nacional, não vejo onde se possa ir encontrar esse núcleo fora das universidades. Nesse sentido, deve competir aos investigadores, constituídos em "Conselho de Orientação Científica", a definição do programa do Museu. Tal não obsta a que o museu tenha outras componentes, que devem ter uma ampla autonomia, no domínio da museologia (naturalmente), da prestação de serviços, da extensão cultural, da animação, etc. Mas essa autonomia deve ser, sempre, subordinada ao programa definido pelos investigadores. Outro problema é o do modelo de gestão. Se é certo que um Museu Nacional, como o de História Natural ou o de Arqueologia, é um local de investigação e formação, daí não decorre, necessariamente, que a sua gestão dependa da Universidade. O ideal, mesmo, creio ser uma autonomia reforçada por protocolos, por um lado com a Universidade e por outro com as mais diversas entidades. Este "ideal", contudo, tem um preço: que o MCT assuma a tutela do MHN, dotando-o de recursos humanos e financeiros. Em caso algum, penso, um Museu como o MHN deveria integra o IPM. Seria vantajoso, no entanto, uma coordanação de esforços com os museus congéneres em Coimbra, etc., sobretudo se o MCT assumisse a tutela.

 Luiz Oosterbeek


Um novo (conceito de) Museu Nacional de Historia Natural?
From: pal@mail.fct.unl.pt
   To: geopor-l@dct.uminho.pt

Luiz Oosterbeek, escreveu:

>  Penso que no debate em causa se confunde dois planos: o da orientação estratégica e o da gestão. O primeiro decorre de um programa, e
> é inconcebível que um Museu de Ciências, ou do Património, possa subsistir sem um forte núcleo de investigação, que o oriente.
>  Tendo em conta a realidade nacional, não vejo onde se possa ir encontra  esse núcleo fora das universidades. Nesse sentido, deve competir aos
>investigadores, constituídos em "Conselho de Orientação Científica", a definição do programa do Museu.

Concordo. Mas os elementos do Conselho de Orientação Científica podem estar ou nao vinculados 'a Universidade. Penso que a sua accao sera mais no sentido de assegurar a qualidade cientifica e pedagogica dos programas do Museu e nao o da sua gestao/execucao. O pessoal executivo (no sentido em que faz, conserva, contacta com publico, etc.) tem que estar vinculado ao Museu, e ser relativamente jovem. Penso que so assim e' que poderá existir dinamismo,  responsabilizacao, etc. Ter funcoes (de docencia e investigacao) na Faculdade  e fazer uma perninha por carolice, solidariedade, obrigacao moral ou outro  motivo qualquer no Museu... nao parece resultar muito bem. Nos casos em que  ainda assim h'a alguns resultados isso deve-se realmente a um esforco e  dedicacao quase heroicos que acabam por nao ser recompensados nem  reconhecidos, o que leva a desmotivacao e paralisacao.  Por outro lado, mesmo quando e' possivel 'pagar' a alguem para estar  inteiramente dedicado ao Museu (via Universidade) comeca naturalmente a  desenhar-se uma situacao de injustica... essa pessoa trabalha (investiga,  divulga) para o estado mas nao tem vinculo a funcao publica, por outro lado e'  dificil integra-la na universidade dado que um docente tem que dar aulas e  investigar (por isso os lugares de investigador estao a ser extintos; caso  contrario a maioria dos docentes optaria por dedicar-se apenas a investigacao,  mesmo gostando de dar aulas e contactar com os alunos).

>  Tal não obsta a que o museu tenha outras componentes, que devem ter uma ampla autonomia, no domínio da museologia (naturalmente), da > prestação de serviços, da extensão cultural, da animação, etc. Mas essa autonomia deve ser, sempre, subordinada ao programa definido pelos > investigadores.
>  Outro problema é o do modelo de gestão. Se é certo que um Museu Nacional, como o de História Natural ou o de Arqueologia, é um local de > investigação e formação, daí não decorre, necessariamente, que a sua gestão dependa da  Universidade.

Claro que deve existir um bom relacionamento institucional entre o Museu Nacional e qualquer universidade (ou unidade de investigacao) do pais. Todavia  parece-me que a investigacao se faz mais no ambito das universidades, e que os museus devem estar mais vocacionados para a inventariacao, deposito e exibicao do patrimonio (mineralogico, paleontologico, bibliografico, etc) a sobretudo  para a sua divulgacao ao publico atraves de exposicoes tematicas, organizacao  de visitas de estudo, e criacao de conteudos multimedia. Nesse sentido tem objectivos diferentes dos de uma universidade e por isso deve ter uma gestao independente e ser dotado de um quadro proprio (sob pena de se tornar um  fardo, ao mesmo tempo apetecivel e indesejavel, para a universidade).

>  O ideal, mesmo, creio ser uma autonomia reforçada por
>  protocolos, por um lado com a Universidade e por outro com as mais diversas
>  entidades. Este "ideal", contudo, tem um preço: que o MCT assuma a tutela do
>  MHN, dotando-o de recursos humanos e financeiros. Em caso algum, penso, um
>  Museu como o MHN deveria integrar o IPM. Seria vantajoso, no entanto, uma
>  coordanação de esforços com os museus congéneres em Coimbra, etc., sobretudo
>  se o MCT assumisse a tutela.

Exacto... penso que os outros museus de mineralogia e paleontologia do pais (onde existem tambem alguams pessoas dedicadas mas praticamente  isoladas/abandonadas) beneficiariam dessa nova estrutura e coordenacao tutelada pelo MCT, e consequentemente beneficiavamos todos, incluindo as Universidades!

Paulo Legoinha



Um novo (conceito de) Museu Nacional de Historia Natural?  Date: Fri, 5 Jun 1998 21:18:56 +0100
      From: "Arqueojovem" <arqueojovem.tom@mail.telepac.pt>
         To: geopor-l@dct.uminho.pt

Concordo com a generalidade dos argumentos de Paulo Legoinha, e no essencial não penso haver divergências.
Contudo, reitero a importância da investigação no quadro de um Museu. Se é certo que a inventariação, conservação, etc. são a sua primeira razão de ser, ela não é exequível sem o enquadramento científico. Daí a vantagem de combinar uma estrutura administrativa autónoma com um organigrama que preveja a abertura, via "conselho científico" ou similar, aos investigadores extra-museu.
Confesso que tenho medo, quase "pavor", dos museólogos pós-modernos que reduzem os museus a galerias de exposições. E a questão é: quem pode assegurar a resistência contra essa praga? Apesar de todas as suas teias de aranha, confio dez vezes mais na tradição universitária do que no voluntarismo dos "emergentes". O caso do Museu do Homem de Paris, ameaçado de se transformar em galeria de "artes primitivas" (não sei o que seja isto, mas a ideia é de Chirac, e admito que lhe agrade o primitivismo!), é um bom exemplo destes "Tempos pós-Modernos". Saudações,
Luiz Oosterbeek.

P.S. Se tiverem tempo, visitem as exposições da "Semana da Pré-História", em Vila Nova da Barquinha, Ferreira do Zêzere e Alvaiázere, entre 7 e 14 de Junho.


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